Franco Galvão faz panorama afetivo de como a nossa intimidade é constituída pelo encontro

Luca Moreira
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Em “Um Ano de Solidão”, projeto inédito produzido pelo músico Franco Galvão, o artista interpretou, além de uma canção de sua autoria, obras do repertório de violão solo brasileiro de difícil execução, selecionadas durante a pandemia, que dialogam com a temática da solidão e da intimidade. O espetáculo explora o sentimento paradoxal e nasce do mergulhar no abismo de si, enquanto o grande desejo é querer encontrar o outro.

Natural de Caçapava, o músico fez questão de escolher a cidade para estrear o espetáculo, o qual já lhe rendeu uma premiação pelo Proac Editais Expresso Lei Aldir Blanc da Secretaria do Governo do Estado de São Paulo. A trajetória profissional de Franco é marcada por grandes realizações, isso inclui, ter conquistado o direito de cursar uma residência artística e gravar um disco no internacionalmente reconhecido Rainbow Studio, em Oslo, na Noruega. Confira a entrevista:

Nos primeiros dias deste mês, foi ao ar, por meio do Facebook, o projeto musical “Um Ano de Solidão” que contou com uma trilha sonora de canções que remetem a solidão que o isolamento social vem causando. Acredita que a abordagem desse tema, por meio da música, possa ser benéfica se tratando de um momento onde a liberdade tem falta na vida das pessoas?

Acredito que sim. A música pode fazer com que as pessoas experimentem emoções e afetos do quais estão privadas nesse momento.

O espetáculo on-line teve como uma de suas propostas a apresentação de um paradoxo que seria o sentimento de se mergulhar em um abismo, e com isso tentar promover um reencontro consigo mesmo. Poderia nos explicar melhor o sentido da mensagem que está procurando passar através desse projeto?

O espetáculo intenciona fazer um panorama afetivo de como a nossa intimidade é constituída pelo encontro com outras pessoas. Isto é, no fundo, somos um apanhado de memórias vivas de experiências comuns.

Foto: Reprodução/Instagram

A estreia do programa na cidade de Caçapava rendeu o prêmio do Proac Editais Expresso. Como foi receber esse reconhecimento pelas autoridades e quais foram os seus sentimentos no quesito de ambições após observar o crescimento do projeto?

O Proac Editais Expresso Lei Aldir Blanc foi o prêmio que viabilizou a realização das apresentações. Foi a partir dos recursos concedidos por meio deste edital que foi possível estruturar uma equipe de produção, de transmissão e de divulgação, bem como pela remuneração dos cachês. Para além dessas técnicas-financeiras, o reconhecimento público do mérito artístico significa que um longo trajeto de dedicação e esforço passou a gerar frutos!

Como foi a montagem do repertório e o desenrolamento do processo criativo do projeto?

Eu sempre quis fazer um espetáculo no formato de concerto de violão solo. Estar sozinho no palco é um dos grandes desafios como músico. A partir dessa vontade, e pelas restrições impostas pela pandemia de Covid-19, fui escolhendo e experimentando músicas durante o primeiro ano de isolamento. O direcionamento foi sempre desenvolver cada peça do repertório a partir do sentimento de isolamento e da busca para entender as questões mais latentes da intimidade.

Foto: Reprodução/Instagram

Você chegou a gravar um disco no Rainbow Studio, em Oslo, na Noruega. Como foi realizar a mesma?

Vai ser difícil realizar uma experiência tão especial como essa. O Rainbow Studio é um dos estúdios mais incríveis da história da música instrumental internacional. Entrar lá foi como entrar no templo sagrado das notas musicais, foi como sentir um abraço apertado dos grandes instrumentistas do século XX.

Cada apresentação foi feita em um destino diferente no formato on-line, como São Paulo, Caçapava, São Carlos, entre outros. Quando a pandemia tiver fim, você pretende levar esse projeto para o presencial?

Nada supera o encontro. A música, a arte, a cultura se realizam no seu grau máximo quando acontece o encontro. Tocar para uma câmera é uma experiência importante, mas não se compara com o olho no olho.

Foto: Reprodução/Instagram

Conte-nos um pouco sobre Franco Galvão.

Franco Galvão é um músico curioso. E a curiosidade é contraditória: ela é bela e perigosa. Assim, a vontade por descobertas o faz enfrentar situações difíceis com amor.

Além do projeto atual, existe algum novo projeto em mente para este ano ainda?

Recentemente, descobrimos no acervo de uma universidade estadunidense uma coleção de 550 páginas de partituras inéditas de um compositor brasileiro muito celebrado pelas suas parcerias com Noel Rosa, mas pouco conhecido pela sua própria obra. Atualmente, estou analisando esse material com o objetivo de entender o que tudo isso significa. A ideia é transformar tudo isso em um CD de homenagem.

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