Fazendo um marco no teatro, Gabriel Vicente vive o 1° príncipe negro em uma produção Disney no Brasil

Luca Moreira
12 Min Read
Gabriel Vicente (Foto: Divulgação)

O ator Gabriel Vicente protagonizou um grande clássico da Disney, A Pequena Sereia. Na versão brasileira, o ator dá vida ao charmoso príncipe Eric. Este não foi apenas um momento marcante em sua carreira, mas também um marco na história do teatro, pois ele carregava a grande alegria e responsabilidade de ser o primeiro príncipe negro do Brasil em um título da Disney.

Baseada na clássica história de Andersen, a trama conta a vida de Ariel, uma bela sereia que vive no fundo do mar, mas anseia por conviver com os humanos. Após fazer um acordo com a bruxa Úrsula, a jovem deixa o rabo e embarca em uma grande aventura, fazendo novas descobertas no mundo além-mar.

Soltando sua voz, Gabriel apresentará grandes músicas mais amadas e conhecidas pelos fãs da indústria da música, incluindo “Her Voice”. Artistas ansiosos continuam a ter grandes esperanças para o palco. Os ingressos para a superprodução, que acontece de 17 de julho a 16 de outubro no Teatro Santander, em São Paulo, já estão à venda no site do Sympla. Confira a entrevista!

Em cartaz com o musical “A Pequena Seria”, grande clássico do autor dinamarquês Hans Christian Andersen e adapto em 1981 pela The Walt Disney Animation Studios, você está sendo responsável por interpretar o personagem Eric. Como tem sido o desafio de reviver um personagem de um clássico que já está há tanto tempo no imaginário do público?

É um prazer imenso, juntar minhas forças com um personagem tão especial como o Eric. Ele é um príncipe diferente, que confronta a estrutura da realeza… Todos os dias me emociono com as músicas, e com a magia de agora ser aquele personagem que eu considerava um grande amigo, por ter participado tão ativamente da minha infância. A Disney está dentro da gente, não tem como.

Além de toda a experiência de reviver a história, a sua participação tem se diferenciado muito de todas as representações desse conto no teatro, pois traz um príncipe negro pela primeira vez na história de um título da Disney, estúdio que já existe mais de 98 anos. O que esse avanço significa para você tanto como artista quanto pessoa? Chegou a notar algum estranhamento da plateia por já conhecerem o personagem das histórias originais?

Eu tenho sido muito acarinhado. No fim do espetáculo procuro sair pra me encontrar com o público, e as reações tem me tocado muito. Jovens e crianças pretxs, me agradecendo por se verem no papel de realeza, se sentirem representados por um protagonista numa produção grandiosa como essa; é sem dúvidas meu maior presente de todos nesse projeto.

Eu vou compartilhar com vocês a foto do Davi, ele é filho de um dos nossos grandes atores e bailarinos – Tiago Dias. O Davi me abraçou e colou seu rosto no meu, e eu tentava olhar nos olhos, mas a cada pergunta que eu fazia como: “Você gostou do musical?”; Ele respondia colando novamente o rosto no meu, e eu sentia aquele sorriso; e em algum lugar ele estava me contando o que sentiu… Ele se viu; ele finalmente se viu um pouco mais.

É importante frisar que sou um preto de pele clara, e que embora seja um passo muito especial e relevante; estamos seguindo atentos e esperançosos para que pretxs retintos ocupem grandes personagens e todos os espaços de projeção; e dessa forma, eu acredito que a representatividade se da com alguns, porém por esse fato, como já foi pauta de alguns comentários em redes sociais sobre minha participação, e sobre assumir o posto de primeiro príncipe preto da Disney no BR.

O fato é que esse momento e esse diferencial é maior que eu, e eu descubro isso com meu encontro com quem mais me importa; o público.

Gabriel Vicente (Foto: Divulgação)

Outro destaque que sua passagem por esse projeto tem deixado é a questão dos seus números musicais que trazem clássicos como “Her Voice” que é cantada pelo personagem. Englobando tanto a incorporação do Eric como também o vocal, como foram os seus preparativos para subir ao palco como o príncipe e quais foram as características mais peculiares ao vivê-lo?

As músicas do Eric são deliciosas, mas confesso que tecnicamente não são fáceis hahaha. Preparei-me correndo enquanto cantava as músicas, principalmente “De Passo em Passo”, onde faço uma coreografia junto da canção, cheia de pegadas e giros, seguida de notas agudas e longas. Cantar é uma academia, é a musculatura vai deixando ao longo dos treinos, tudo um pouco mais fácil; mas não há dificuldade que supere o prazer que é interpretar essas canções.

Falando um pouco também sobre a sua carreira artística, você se recorda de como foram os seus primeiros passos na atuação e a partir de qual momento passou a notar que a paixão poderia dar lugar a uma possível profissão?

Vindo da periferia de São Paulo, precisamente do Jaraguá, e desbravando em uma família que não teve artistas até ali, e que nem consideravam isso possível. Eu achava que não tive incentivo suficiente, mas hoje eu percebo que era, um jeito doce de me contar que era difícil quase impossível, vindo de onde eu vim, tendo as condições que tive… Mas foi maior que eu; e costumo dizer que a arte me abraçou e fez acontecer, junto do meu sonho sem limites e da minha insistência incansável.

A educação na escola pública me deu muito contato com a arte, por sorte Maria Marta Vilela, que era diretora do Fontenelle, no bairro do Jaraguá – era uma apaixonada por arte e me deu chance de aprender a tocar instrumentos, viver o bumba-meu-boi com ninguém menos que Ana Maria Carvalho; carimbo, circo, teatro e todo o mundo de fantasia do folclore nacional. A igreja evangélica é onde eu tenho meu primeiro espaço para me apresentar cantando, desde muito novo.

A profissão real veio quando eu estava no pátio do colégio Zuleika, onde fazia o ensino médio; e que também tinha projetos artísticos com dança; e eu vejo um menino com uma camiseta “Noites do Terror – elenco”. Eu vou até ele e pergunto como faço pra ser elenco também RS; ele não me trata muito bem, mas me dá a resposta que eu preciso: “tem que ser ator!”. Eu não teria tempo pra fazer isso acontecer tão rápido, mas fico atento e no próximo ano, com dezesseis anos de idade; eu arrisco participar do teste, e mesmo não sendo um ator como se espera, viram algo em mim, e eu entrei. Ali eu cresci, entendi que precisaria de estudo e formação e fiz grandes amigos que carrego no peito e na vida até hoje. Sim; fui monstro nas Noites do Terror por três anos até chegar aos palcos de teatro, e musicais. Eu tenho muito orgulho da minha história; não mudaria nada.

Gabriel Vicente (Foto: Pedro Dimitrow)

Com passagens por projetos como “Cartola – O Mundo é Um Moinho”, “Castelo Rá-Tim-Bum – O Musical” e “Romeu e Julieta – ao som de Marisa Monte”, qual tem sido o maior diferencial que vem sentindo artisticamente em “A Pequena Sereia”?

Eu acabei participando mais de projetos autorais, e mesmo “A Cor Púrpura” que foi meu primeiro título Broadway, tinha uma estrutura nova e que eu participei do processo de criação desde o início.

Meu maior desafio foi entrar num espetáculo que já havia sido montado, com parte do elenco retornando. É claro que é diferente, e a diretora sempre falava que era um novo show; mas de certa forma, ele já tinha um esboço muito bem estruturado. Foi mais fácil do que eu imaginei, sobretudo pela parceria que me rendeu uma paixão imensa pela artista e pessoa que é Fabi Bang, a brilhante atriz, cantora e bailarina que da vida a Ariel; nossa troca, respeito e admiração, fazem todos os dias a verdadeira magia do teatro acontecer, na troca.

Ainda nesse ano, já foram anunciados grandes projeto em sua carreira, sendo um longa-metragem que entrará para a Netflix e um novo formato de podcast de série musical que será lançado no Spotify. O que pode nos adiantar dessas produções e como está a preparação dos projetos?

Estou ansioso para o lançamento do filme “Esposa de Aluguel” onde faço uma pequena participação, mas é minha primeira num longa, e simplesmente da Netflix. Tenho doze anos de teatro, e cada vez mais, estou afim de também fazer trabalhos com as telonas, e audiovisual em geral. O podcast é inovador, e acho que vai agradar. Não posso revelar ficha técnica nem título, mas o time é forte, e é algo que nunca vimos até agora. Uma série musical para podcast.

Gabriel Vicente (Foto: Divulgação)

Programada para ficar em cartaz até o mês de outubro no Teatro Santander em São Paulo, como estão sendo suas expectativas para o restante da temporada?

Espero honrar cada dia esse personagem e esse espaço tão significativo, que insisto em dizer – é maior do que eu. Espero o encontro emocionado dos meus, e o calor único das crianças. A magia Disney é contagiante, e se funciona do palco pra plateia, então só aí funcionou também da plateia para o palco. Espero que seja feliz, e longa (risos). A Pequena Sereia de 2018, foi o grande recorde de bilheteria do Teatro Santander, e eu espero realmente que esse limite seja batido de novo.

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