A cantora, compositora e performer Crystal Murray — uma das vozes mais inovadoras da cena alternativa europeia — dá um passo importante em sua carreira com o lançamento do remix de “PAYBACK”. A faixa ganha nova vida com a participação da rapper TRIZ, conhecida por “Baile do Bruxo”, e produção de Victor WAO, responsável por hits como “Não Era Amor” (Giulia Be) e “Derrubar o Prédio” (Luan Santana). Com batidas de baile funk, a música se reinventa como um manifesto de resistência e liberdade, marcando a primeira colaboração de Crystal com artistas brasileiros.
Você sempre misturou música, moda e artes visuais no seu trabalho, criando um universo único e cheio de identidade. O que te motivou a dar esse passo e se abrir para uma nova cultura, como a brasileira, ao remixar “PAYBACK”?
Eu sempre amei misturar música com moda e visuais; é assim que eu construo meu mundo e mostro quem sou. Cada projeto é uma forma de mergulhar ainda mais nesse universo. Com esse remix de PAYBACK, eu queria ir além e abrir as portas para uma nova cultura.
A música brasileira, especialmente o baile funk, tem uma energia crua, barulhenta e poderosa que fala muito comigo. É emocional e rebelde, assim como PAYBACK. Eu não queria apenas copiar um som; queria me conectar com o espírito por trás dele.
Explorar outra cultura através do som foi algo natural para mim. É sobre compartilhar energia. É isso que torna a música tão emocionante — como ela pode crescer, viajar e se transformar, mantendo-se fiel à sua mensagem.
“PAYBACK” fala sobre romper limites e retomar o controle. Quando você decidiu trazer o funk brasileiro para a faixa, sentiu que a música finalmente encontrou a sua forma completa? Como foi para você, artisticamente, unir esses mundos tão diferentes?
Sim, trazer o funk brasileiro para PAYBACK foi como desbloquear algo que já estava lá. A mensagem da música é sobre se libertar, retomar o poder e não pedir permissão. O baile funk tem esse mesmo espírito — é selvagem, alto e sem arrependimentos. Quando eu ouvi a música com o funk, tudo fez sentido. Era como se a música tivesse encontrado uma nova forma de falar.
Artisticamente, foi emocionante. Eu adoro misturar mundos que não deveriam se encaixar e fazer com que pareçam naturais.
Você comentou que sempre teve muito carinho pela cultura brasileira, especialmente pela música, pelas festas e pela energia que vem daqui. Como você transformou esse sentimento em algo concreto ao colaborar com a TRIZ e o Victor WAO?
Eu venho do gospel; essas são as minhas raízes. Foi lá que eu aprendi a cantar com sentimento, com verdade. A voz sai crua, direto da alma. Esse tipo de emoção é algo que eu levo comigo em tudo o que faço, não importa o estilo.
O que me surpreendeu foi como isso se conecta tão profundamente com a cultura brasileira. Existe uma intensidade parecida, especialmente na música. Seja no funk, no samba ou no baile, a emoção está ali — alta, honesta, cheia de vida. Assim como o gospel, é uma música que não se contém.
Ao longo da sua carreira, você já explorou gêneros como trip-hop, rap alternativo e soul. Agora, com o funk brasileiro pulsando no remix de “PAYBACK”, de que forma você acredita que essa sonoridade te ajudou a expandir a força e a urgência que a faixa já tinha?
Não é algo que você só ouve, é algo que você sente. Esse ritmo deu ainda mais força à faixa, como se empurrasse a mensagem para fora de forma ainda mais alta, ainda mais rápida. Deu a PAYBACK uma pulsação que tornou a urgência impossível de ignorar.
Você menciona que o funk é urgente e faz você sentir com o corpo inteiro. O que mudou na sua relação com a própria música depois de mergulhar nessa batida tão visceral e potente?
É realmente algo único. Eu não vejo esse remix como uma mudança de direção, mas como um momento que fez sentido para essa música em específico. PAYBACK precisava dessa energia: algo cru, físico, urgente. O beat do funk não mudou meu caminho, apenas adicionou uma nova camada a ele.
Minha jornada musical sempre foi sobre descoberta e conexão. Eu sigo o que me move, e me inspiro em tudo ao meu redor — sons, pessoas, lugares, sentimentos. Cada música se torna o seu próprio mundo, e essa naturalmente encontrou o caminho para um universo brasileiro.
Eu não estou tentando me prender a um único estilo. Estou construindo algo maior do que isso — algo cheio de encontros, emoções e momentos que me surpreendem.
Essa é sua primeira colaboração com artistas brasileiros, e você destacou que aconteceu de forma muito natural, sem grandes cálculos. Como você equilibra, no seu processo criativo, a intuição e a construção artística planejada?
É como dançar — você segue o sentimento, mas também conhece os passos. Esse equilíbrio é onde a mágica acontece para mim. Quando uma música me surpreende e faz sentido no meu universo, é aí que eu sei que estou no caminho certo.
Você falou sobre a forte presença feminina e a resistência artística que emergiram nessa colaboração. Como foi para você, enquanto mulher e artista, trazer essa força feminina para o remix de “PAYBACK”?
Como mulher e artista, eu sei o quanto existe de pressão para suavizar, para explicar, para encolher. Esse remix foi o oposto. Ele me permitiu ser barulhenta, direta e cheia de sentimento. Há algo muito libertador nisso, como dizer: estamos aqui, e não estamos pedindo permissão.
Esse tipo de energia feminina não é só sobre força — é sobre resistência, criatividade e emoção. É uma força que constrói, que queima, que transforma. E em PAYBACK, acho que você consegue sentir isso.
Você já disse que o mundo precisa ver o que está acontecendo na cena brasileira. Quais elementos ou artistas te chamaram a atenção e te fizeram querer explorar ainda mais a música daqui?
É sexy — é cru — é óbvio que você quer ver mais.
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