O término de uma noite memorável e a chegada de um novo tempo repleto de esperança são as inspirações por trás de “Farsa (Alvorada)”, o novo single da banda carioca Canto Cego, acompanhado de um videoclipe. Misturando de forma única o peso do rock com uma poesia intrínseca e suas vivências nos subúrbios e favelas do Rio de Janeiro, o grupo se prepara para lançar seu terceiro álbum de estúdio em julho. A música escolhida para esse anúncio já adianta o clima do trabalho, enquanto o vídeo serve como um cartão de visitas, exibindo a energia contagiante da banda durante uma apresentação ao vivo.
A formação da Canto Cego é composta por Roberta Dittz (vocais), Rodrigo Solidade (guitarras), Ruth Rosa (bateria) e Magrão (baixo). Nesta nova canção, eles contam com a participação especial de Pedro Guinu, um dos destaques da cena de jazz do Rio.
Nascida na Favela da Maré, a Canto Cego carrega suas raízes em suas músicas, em suas mensagens e até mesmo em seu nome. Desde 2010, o grupo tem trilhado seu caminho nos palcos e se apresentado em importantes festivais, como o Rock in Rio, o Montreux Jazz Festival (Suíça), o Porão do Rock, o Circo Voador e o Imperator.
Em seu primeiro álbum, intitulado “Valente” (2016), a banda trouxe faixas compostas em parceria com o saudoso Marcelo Yuka, além de uma versão de “Zé do Caroço”, de Leci Brandão, em uma abordagem rock, que se tornou trilha sonora da novela “Malhação”. Já em seu segundo álbum, “Karma” (2019), a Canto Cego incorporou elementos percussivos, mesclando ritmos afro-brasileiros com letras de cunho social e existencialista. Entre os lançamentos mais recentes estão “Vida Rendeira”, com participação de LAZÚLI (Francisco El Hombre), uma releitura do samba “Tô Voltando”, de Paulo César Pinheiro e Maurício Tapajós, com a cantora CARU, e o single “Bate Panela”, com participação do rapper Marcão Baixada.
O novo álbum trará uma perspectiva renovada da banda, amadurecida e influenciada pelos últimos anos no Brasil. O trabalho conta com a participação de Morgado, presente na já lançada faixa “Rio”. Mais detalhes serão anunciados em breve sobre o terceiro disco da Canto Cego, que será lançado pelo selo Machinna e foi realizado com recursos do edital FOCA – Fomento à Cultura Carioca, da Prefeitura do Rio.
O novo single “Farsa (Alvorada)” da banda Canto Cego traz consigo uma inspiração única. Poderia nos contar um pouco sobre a história por trás dessa música e como ela se relaciona com o trabalho que a banda vem desenvolvendo?
Roberta – Pra gente Farsa representa uma libertação do que vivemos nos últimos tempos. Com dois anos de pandemia e seis anos de governos que menosprezavam a cultura, nós como banda que fala sobre temas sociopolíticos nos sentimos muito vulneráveis. Nesses anos todos assumimos mais o nosso papel de afrontar o que nos incomoda e apoiar as causas que nos fortalecem. Isso nos uniu como banda e como seres humanos, e, com o suporte e colaboração dos amigos e fãs, fomos superando essas barreiras. Farsa é como um grito de guerra pra qualquer coisa que tente nos diminuir frente aos desafios, ela marca a chegada do nosso novo álbum e diz muito sobre como nos sentimos agora. Nos traz uma sensação de otimismo e esperança, mas sem perder a força e motivação para seguir em frente, haja o que houver.
A Canto Cego é conhecida por sua mescla peculiar de peso do rock, poesia intrínseca e vivência nos subúrbios e favelas do Rio de Janeiro. Como você descreveria essa fusão de influências em sua música e como ela se reflete nas mensagens transmitidas?
Roberta – Uma das coisas que mais me encanta como compositora na banda é a naturalidade como os temas e referências surgem. A gente não pensa muito e as criações vão brotando cada uma com sua cara, sem deixar de ter uma marca da banda. Acho que muito disso tem a ver com as vivências particulares de cada um de nós, temos gostos musicais bem distintos e isso gera uma diversidade de ritmos e sonoridades. A mensagem da banda permeia tudo que fazemos, e não teria Canto Cego se não fosse uma vontade de comunicar nossas aflições de questionar o mundo como ele é, e do desejo de construir algo melhor. Fazer da música um lugar de expressão pra nós e pra quem nos ouve, onde colocamos pra fora nossas incertezas e nos fortalecemos.
A vocalista Roberta Dittz mencionou que “Farsa (Alvorada)” traz uma sensação de liberdade, renovação e esperança, mas também alerta para os movimentos conservadores que ameaçam nossa existência. Poderia compartilhar mais sobre a mensagem que vocês desejam transmitir com essa música?
Roberta – O refrão de Farsa é como um grito de guerra. É uma canção de esperança, mas também uma lembrança que o jogo nunca está ganho e se algo vier nos segurar, não existe mais espaço e possibilidade de nos mantermos calados e amedrontados. A nossa vontade com essa música era criar esse sentimento de unidade, de estarmos juntos e preparados para o que vier.
Gostaríamos de conhecer melhor os membros da banda Canto Cego e suas respectivas contribuições para a sonoridade do grupo. Poderia nos falar um pouco sobre cada um de vocês e como suas habilidades se combinam para criar a identidade musical da banda?
Magrão – Minha vivência na música começa ainda criança quando foi no meado dos anos noventa quando comecei a andar de skate pelos subúrbios do Rio. Nesta época existia uma cena forte do hardcore e grunge nos EUA que pegou toda uma geração em cheio. Acredito que foi minha base como baixista de rock. Ao longo do percurso, já na Canto Cego, descobri uma nova maneira de fazer som, um experimento talvez. Somos quatro indivíduos totalmente diferentes, ideias e experiências diferentes que convergem no estúdio e palco. Acho isso um privilégio.
Roberta – Eu tive uma experiência bem intensa com performance de poesia pelo Rio já adulta, também cresci com grupos de teatro na escola e na faculdade, tive uma banda só com meninas na adolescência tocávamos System of a Down, tudo isso me construiu compositora, rockeira e poeta. Dizer o que se canta é uma das coisas que mais gosto de experimentar, não apenas pela beleza da música mas pelo significado e poder das palavras.
Rodrigo – Nós curtimos muitas referência em comum, mas talvez o mais interessante pra banda esteja justamente nas nossas diferenças. Porque é a partir delas que a gente consegue pegar uma sonoridade e fazer virar outra coisa. Virar a gente, virar Canto Cego. Seja o lado mais rock n’ roll do Magrão, o pop da Ruth, o que eu curto mais de swingue o ou as referências mais MPB da Roberta, no final das contas, a gente mexe nosso caldeirão com tudo isso dentro e sai o que vocês ouvem nos shows e nos discos.
A origem da Canto Cego na Favela da Maré tem uma influência significativa em sua música e discurso. Como vocês incorporam suas raízes em suas canções e como isso se reflete nas mensagens que desejam transmitir?
Roberta – A gente surgiu como banda em espaços de convívio na Favela da Maré, e isso foi muito especial pra gente, tanto que até o nome da banda tem conexão com a vivência desse lugar. Depois de algumas mudanças na formação e na rotina da banda, toda vez que tocamos, ensaiamos, ou simplesmente estamos na Maré, lá continua sendo um lugar de muito envolvimento emocional pra gente. De certa forma, todos nós da banda tivemos alguma vivência na infância e adolescência com subúrbios e comunidades, o Rodrigo é do Alemão, o Magrão de Santa Cruz, a Ruth da Maré e a Roberta cresceu em Maricá. A vivência da periferia tá na nossa forma de ver o mundo, e sem esforço isso se reflete na linguagem, mensagem e estética da banda. A gente cultiva essas raízes com muito orgulho.
Ao longo de sua carreira, a Canto Cego já teve a oportunidade de se apresentar em palcos e festivais importantes. Quais foram os destaques e conquistas mais significativas até agora?
Roberta – São 12 anos de banda e 10 anos com a mesma formação, então já passamos por muitas coisas juntos. Grandes marcos foram o Rock in Rio 2019 e o Montreux Jazz Festival na Suíça em 2015. Os lançamentos dos álbuns foram conquistas bem importantes pra nós também e agora estamos chegando no nosso terceiro álbum de carreira.
A banda tem lançado músicas recentemente, como “Vida Rendeira” e “Bate Panela”, que demonstram a diversidade musical do grupo. Poderia nos contar um pouco sobre essas faixas e como elas se encaixam na trajetória da Canto Cego?
Rodrigo – A Canto é uma banda que explora diversas sonoridades diferentes, bebe em muitas fontes ao mesmo tempo e isso acabou virando uma característica importante na nossa trajetória. Na produção de uma música a gente pode usar um Nirvana como referência e em outra, a referência ser Anavitória. E tá tudo certo. No final das contas, sempre acaba soando Canto Cego. Nós gostamos de ser assim. Então, pra gente acaba sendo natural criar músicas como “Vida Rendeira”, que tem uma pegada mais suave e introspectiva e “Bate Panela”, que é completamente insana e barulhenta e elas coexistem num mesmo setlist. Toda essa pluralidade faz parte da gente de um jeito muito verdadeiro, sem tentar ser alguma coisa que não somos.
O terceiro álbum de estúdio da Canto Cego está a caminho e promete trazer uma nova perspectiva. Poderia nos adiantar um pouco sobre o que os fãs podem esperar desse trabalho em termos de temas abordados e possíveis colaborações?
Roberta – Nesse álbum fomos mais fundo em busca da nossa essência, acreditamos que os fãs vão gostar muito porque não abrimos mão de fazer o rock do jeito que a gente gosta e sabe fazer. Temos dois feats, dois lançamentos já conhecidos pela galera. Falamos sobre nós, nossas vivências, trouxemos poesias, ritmos diferentes e muitas novidades legais!
O apoio do edital FOCA – Fomento à Cultura Carioca, da Prefeitura do Rio, foi importante para a realização do novo álbum da banda. Como esse suporte influenciou o processo de produção e qual é a importância desse tipo de incentivo para a cena musical carioca?
Roberta – Para uma banda como a Canto Cego é fundamental os incentivos diretos, da prefeitura principalmente porque temos uma linguagem muito ligada a cidade do Rio. Temos letras críticas, pensamento crítico e tudo isso pesa na hora de conseguir um patrocínio, então incentivos como o FOCA nos permitem caminhar como banda, colocar nossa música no mundo e lançar um álbum novo depois de anos tão difíceis.
Com o lançamento do novo álbum se aproximando, existem planos futuros de turnês ou apresentações ao vivo para compartilhar esse trabalho com os fãs? Quais são as expectativas da Canto Cego nesse sentido?
Roberta – Estamos preparando a primeira parte da turnê de lançamento pro início do segundo semestre. Vamos começar por quatro cidades aqui do estado do Rio e estamos planejando as datas para fora do RJ também. Esperamos fazer muitos shows pelo Brasil inteiro. Em breve vamos divulgar as datas disponíveis para acompanhamentos nas nossas redes sociais. A gente tá num processo super intenso de trazer muitas novidades legais pra vocês!
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