Conhecida anteriormente como Ashley Rapini, a estrela que brilhou ao lado de Silvio Santos em “Hot Hot Hot” nos anos 80 e 90 retorna como Aryè Campos para uma carreira de destaque tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Após mais de duas décadas desde sua saída dos palcos brasileiros, Aryè tem conquistado papéis de destaque, marcando presença em séries como “Rio Connection” e “Passaporte Para A Liberdade”, preparando-se para estrear seu primeiro longa-metragem em português, “Dois É Demais Em Orlando”, ao lado de Eduardo Sterblitch. Esta é a história de uma atriz que continua a brilhar em dois idiomas e culturas distintas.
Sua carreira te levou dos palcos com Silvio Santos à atuação nos Estados Unidos. Como foi a transição de uma estrela mirim para uma carreira artística internacional?
A transição foi longa…demorou muito e teve muitos obstáculos. Mas graças a Deus, no final deu tudo certo. Ser estrela mirim foi maravilhoso, tive oportunidades de fazer coisas que eu sempre sonhava, estar no palco do Silvio Santos, gravar um CD, cantar e dançar em shows, foi realmente um sonho. Mas também teve seus obstáculos pois essa “fama” trouxe muita atenção negativa no meu dia a dia e com 8-9 anos foi bem difícil de lidar com tudo isso. Depois que me mudei para os EUA, foi como começar tudo de novo. Uma língua que eu não falava, pessoas que eu não conhecia, uma cultura completamente diferente da minha, ficar longe do meu pai e irmãos e do meu país. Resumindo, não foi fácil. Demorei para aprender a língua e me ajustar ao meu “novo normal”. Mas sempre falo que tudo acontece por uma razão, e hoje dou Graças a Deus por tudo isso pois me transformou na pessoa que sou.
Como foi a experiência de atuar em “Passaporte Para A Liberdade” e “Rio Connection”? Quais desafios enfrentou ao interpretar personagens tão distintos?
As experiências de atuar em “Passaporte Para A Liberdade” e “Rio Connection” foram maravilhosas! Passaporte, por mais que foi em inglês, foi meu primeiro trabalho de volta ao Brasil depois de muitos anos fora e minha primeira vez fazendo papel de Brasileira como Tina Falada, e em uma series em inglês. Fora isso foi o meu retorno trabalhando com Jayme Monjardim, com quem eu trabalhei quando criança. No Rio Connection eu já faço papel de Americana, Amanda Singleton, uma mulher muito forte que vive em um mundo de homens e mesmo assim sempre está um passo a frente deles, e isso para mim foi muito especial. Os desafios em cada serie foi diferente: no Passaporte, sendo meu retorno gravando no Brasil, eu tive que me reajustar com o jeito de gravação, tive que trabalhar falando inglês, mas usando um sotaque brasileiro (pois eu não tenho mais) e saber como ser um bom suporte para a história da Aracy. Já no Rio Connection, Amanda e bem durona, então o desafio foi humanizá-la e mostrar as vulnerabilidades que ela tem para que a audiência entenda e possa se relacionar com ela na sua jornada.
Você passou por momentos difíceis durante a infância devido à exposição midiática. Como essas experiências moldaram sua perspectiva sobre a fama e a indústria do entretenimento?
Eu acho que as coisas que eu passei quando era criança me colocou um pouco com o pé no chão sobre “fama”. Acho que muitas vezes as pessoas querem atuar não pelo amor da arte, mas sim porque querem ser famosos, e como eu tive essa experiencia, e não foi tudo flores, eu acho que me fez pensar duas vezes se essa carreira era uma coisa que eu realmente queria e se sim, tendo certeza de que era por causa da arte e não da fama. E desde então sempre foquei no trabalho, na arte, na história e não nas consequências do sucesso.
Sua mudança para os Estados Unidos marcou um recomeço artístico. Pode compartilhar mais sobre essa jornada e como sua trajetória profissional evoluiu desde então?
Quando eu me mudei para os estados unidos, primeiramente eu tive que aprender inglês. Então nos primeiros anos eu não pude atuar, mas estava sempre no palco pois estava no coro da minha escola cantando e a gente fazia alguns shows. Depois quando fui para o ensino médio eu voltei a atuar, mas dessa vez no teatro. Minha escola tinha um programa de teatro muito prestigiado. Nos fazíamos entre 3-6 produções de teatro musical e teatro normal durante o ano. Foi assim que minha paixão por teatro musical começou.
Continuei no teatro por muitos anos, incluindo na faculdade onde fiz meu Bacharelado de teatro musical na Universidade USF, no Sul da Florida. Em 2007 eu decidi me mudar para Los Angeles para poder voltar para televisão e filmes em que, querendo ou não, sempre foi meu primeiro amor. Depois de vir para Los Angeles, passei alguns anos quebrando a cara para entender como funcionava o mundo de Hollywood e enquanto eu descobria, continuei no teatro e para pagar as contas peguei um trabalho como consultora financeira onde fiquei pelos próximos 8 anos. Graças a esse trabalho tive dinheiro para fazer vários cursos, workshops de atuação, e me aprimorar cada vez mais. Em 2011 peguei meu primeiro protagonista em um curta e de lá a frente as coisas começaram a fluir. Em 2016 foi quando os trabalhos de atuação já estavam mais frequentes eu decidi finalmente sair do meu trabalho de finanças para me focar 100% na atuação. Desde então, Graças a Deus, nunca mais olhei para traz.
O nome Aryè Campos é uma homenagem significativa para você. Como esse nome representa sua história e suas raízes? O que ele significa em sua carreira?
Meu nome foi criado por duas razoes. Primeira para separar o mundo de finanças onde eu trabalhava, e o mundo de atuação. Porque querendo ou não em Los Angeles, como todo mundo quer ser ator ou algo do tipo, rola um preconceito e os atores/atrizes não são sempre levadas a sério. Então não queria que isso afetasse meu trabalho. E segundo, como eu perdi meu pai- Ariovaldo (Ari)- no mesmo ano em que eu vim para Los Angeles para seguir minha carreira, queria homenageá-lo, e ter um jeito de senti-lo sempre comigo. Então feminizei Ari e virou Aryè. Sobrenome Campos já e outra história. É o sobrenome do meu marido, mas uma das razoes que eu decidi usá-lo foi para mostrar que eu sou latina pois Hollywood não pensa que brasileiras ou latinas em geral também podem ser loiras de olhos azuis. E eu sempre quero que todos saibam das minhas raízes pois sou muito orgulhosa de ser brasileira. E por isso nasceu Arye Campos.
“Dois É Demais Em Orlando” marca sua estreia em longas-metragens totalmente em português. O que pode nos contar sobre sua personagem e a experiência nas gravações?
Minha personagem Sabrina e MUITO divertida e um pouco louca não quero contar muito para não dar spoiler. Mas posso dizer que minha experiencia foi maravilhosa. Não só pelo fato que estava atuando em português com uma equipe massa e atores maravilhosos, mas a gente estava gravando nos parques da Universal Studio em Orlando!! Literalmente um sonho!! E como meu irmão mais novo mora em Miami agora, e eu já estava com ideia de ir para lá nessa época, coincidiu de eu conseguir estar lá com minha família e gravar um filme massa tudo junto!
Além do Brasil, você consolidou uma carreira nos Estados Unidos. Como você equilibra e se adapta a trabalhar em diferentes culturas e idiomas?
Não sei…. realmente está sendo uma experiencia que eu levo um dia de cada vez. Mas o que eu posso dizer é que isso foi uma coisa que eu sempre quis fazer. Sempre quis ser uma atriz internacional, falar vários idiomas, sotaques diferentes, viajar e grava em lugares diferentes. E por mais que não seja fácil, e as vezes o cérebro da tiu-chi… É realmente o que eu sempre quis, então é como se fosse um sonho sendo realizado cada vez que essas oportunidades surgem. Me aprimorei no Espanhol e agora sou fluente e estou aprendendo italiano, para poder continuar essa jornada.
Recentemente, atuou no filme “My Husband’s Ex”. Como foi interpretar Daisy Hawkins e quais aprendizados trouxe dessa experiência?
Daisy foi um personagem bem interessante porque ela e um pouco o oposto dos personagens que eu normalmente faço. Ela é mais ingênua, doce e chega ser um pouco a vítima do filme por um tempo. Isso para mim foi difícil pois eu tenho a personalidade muito forte- muito mais perto da Amanda do Rio Connection- então fazer a Daisy me ensinou a usar, mais do que nunca, meu lado mais vulnerável e delicado, mas não de um jeito negativo. Ela não é uma pessoa fraca, pelo contrário, ela também e muito forte, mas ela vê o lado positivo nas pessoas, mesmos as que não merecem. Eu acho que todos nos temos os dois lados, então foi bem interessante focar em um pedaço de mim que normalmente, mas não intencionalmente, as vezes eu escondo um pouco.
Você expressou o desejo de continuar contando histórias em diferentes idiomas. Que tipo de personagens ou projetos artísticos você gostaria de explorar no futuro?
Sim, como eu disse eu adoro poder fazer coisas em partes do mundo diferente. Eu estou pronta para fazer algo em espanhol. Já fiz algumas campanhas de publicidade em espanhol aqui nos EUA, já até filmei em Buenos Aires e em Madrid! Agora espero ter a oportunidade de fazer series de tv e filmes em espanhol e eventualmente mesmo em italiano- mas eu ainda estou aperfeiçoando o idioma. Quero continuar fazendo personagens com várias camadas complicadas, pois creio que somos assim na realidade e acho muito interessante fazer esses personagens de várias dimensões. Quero continuar contando histórias de latinos porque infelizmente, especialmente aqui nos EUA, não tem muitas. Eu quero continuar focando que ser latina é uma etnia e não uma raça, e que não somos uma coisa só.
Como você enxerga o futuro da indústria do entretenimento e qual mensagem gostaria de compartilhar com aspirantes a artistas que enfrentam desafios semelhantes aos que você já superou?
Eu acho que a indústria do entretenimento está cada vez mais se aprimorando, não só em termos de produção, mas de contar histórias que podem realmente mudar o dia, mês, ano ou a vida de uma pessoa. Acho que arte tem esse poder. De fazer um ser humano não se sentir só no mundo, de assistir algo para poder escapar da sua realidade temporariamente, e com isso respirar um pouco mais para poder enfrentar seu dia e seus obstáculos, isso é maravilhoso e a maior razão que me tornei atriz. Para artistas que enfrentam desafios semelhantes eu sempre falo para focar no seu “porque”. Por que você quer atuar?? Se você tem uma razão forte, você nunca vai desistir, porque nos meus olhos não existe fracasso, somente desistência. Se você continuar, e sempre lutar para ser uma pessoa e um artista melhor, eventualmente sua chance chegará. Em inglês a gente fala “Luck is when oportunity meets preparation” o que quer dizer “sorte e quando a preparação encontra com a oportunidade”. Ou seja, continue se preparando e lutando porque quando chegar a sua oportunidade você estará pronto!
Acompanhe Aryè Campos no Instagram