Amanda Linhares fala de experiência ao interpretar Rafa em « De Volta Aos 15 »

Amanda Linhares (Sérgio Santoian)
Amanda Linhares (Sérgio Santoian)

A terceira e última temporada de “De Volta Aos 15”, sucesso teen inspirado nos livros de Bruna Vieira, acaba de estrear na Netflix com novidades no elenco. Entre os destaques está a atriz paraense Amanda Linhares, de 26 anos, que faz sua estreia no audiovisual como Rafa, a divertida chefona das imperatrizes. Apesar de novata nas telas, Amanda traz uma sólida experiência do teatro, onde é formada e mestre em atuação, já tendo atuado e lecionado. Agora, ela usa sua visibilidade para levantar a bandeira da aceitação corporal e planeja novos projetos no cinema e nos palcos.

Como foi para você, estrear no audiovisual com uma personagem tão irreverente como a Rafa, em De Volta Aos 15? Quais foram os maiores desafios?

Foi um acontecimento dar vida a uma personagem tão cheia de si, carregando a representatividade de uma jovem mulher gorda que existe sem estereótipos. Acredito que entro em um momento muito oportuno do cinema, em que a diversidade é necessária e finalmente tomando um espaço que é seu há tempos. Os maiores desafios, entretanto, perpassam por essa contradição: como dar vida a uma personagem grande, cômica, mas sem entrar nos estereótipos que tanto tentamos fugir? Construir e principalmente deixar a Rafa acontecer foi uma descoberta diária. Mas de uns anos pra cá, amadureço uma ideia de que se você “resolver” a personagem, ou seja, dar ela todas as soluções e respostas, é dar um fim a abertura infinita de possibilidades que se podem experimentar. Quando entendi isso no audiovisual, viver, de fato, a Rafa, se tornava cada vez mais uma surpresa agradável.

A Rafa tem uma personalidade assertiva e organizada, características que você mencionou compartilhar com ela. Como essas semelhanças ajudaram na construção do papel?

Curiosamente, são características minhas que descobri depois de adulta, da mesma forma que me tornei mais introvertida e reservada. É novo pra mim. Estar no set e buscar semelhanças com uma personagem é sempre um olhar profundo sobre si, então o exercício feito com características que “ainda estou me acostumando” sobre mim mesma, foi uma descoberta, uma troca; aprendi muito com a Rafa. Mais do que “emprestar” pra ela coisas da Amanda, ela me trouxe mais segurança, menos importância com a opinião dos outros e as pazes com meus pensamentos altos.

Você destacou uma cena específica no quinto episódio que mostrou um lado mais complexo da Rafa. Pode nos contar mais sobre essa cena e como foi atuar nesse momento de esgotamento emocional?

A cena em que a Rafa expulsa a Anita da república, acontece pra findar o looping, depois de várias situações exaustivas pra todas as personagens. A situação da Rafa ali, inicialmente, é de não sentir-se ouvida, compreendida, de fato sentir que existe um cuidado com tudo ao redor e não receber em troca. Perceber isso durante o looping me ajudou a viver tudo aquilo verdadeiramente e sentir.

O monólogo do mêsversário da louça feito pra praticamente todo o elenco ali na cozinha, foi um momento de me desprender de muitas vergonhas e inseguranças. Percebo como uma brincadeira, no sentido mais fiel que isso significa: pra brincar, a gente se disponibiliza a viver com toda verdade e visceralidade uma situação por um determinado momento. Conseguir fazer isso foi um desafio e uma aposta, porque ainda tinha muitas dúvidas sobre como minhas expressões e “heranças do teatro”, muito recentes, iriam aparecer na câmera. Mas de fato, me desprender do ego, mesmo que com muito esforço nesse momento, foi o que me ajudou a fazer uma cena que gostei muito do resultado. Lembro que foi tão intensa, que desci pra almoçar “com raiva”, ainda com o corpo quente de energia. Foi interessante sentir isso. Me senti a atriz que sempre quis ser.

Amanda Linhares (Sérgio Santoian)
Amanda Linhares (Sérgio Santoian)

Contracenando com nomes como Maísa e João Guilherme, como foi a experiência de trabalhar com um elenco já consolidado e ao mesmo tempo construir novas dinâmicas com a sua personagem?

Todos me receberam super bem e era super receptivos quando eu queria trocar sobre a personagem, conversar sobre a dramaturgia. Me senti muito bem acolhida como profissional e no enredo! Com toda solitude que existe na construção de uma personagem, perceber a integração a partir da trama também é muito valioso, e isso de fato aconteceu desde o início. Foi um lindo caminho.

Além do seu talento na atuação, você utiliza sua visibilidade para levantar a bandeira da liberdade do corpo. Como essa representatividade tem impactado você e seus seguidores?

Gosto de dizer que a liberdade do corpo vai muito além de “uhu sou plus” ou “uhu sou padrão”. Liberdade de corpo é você poder ser e se transformar no que quiser, sem que alguém fique te observando ou você ter que se justificar sobre ter engordado ou emagrecido. Acho um saco isso. Acho que todo mundo deve ter o direito de viver seu corpo, seja lá como ele esteja porque tudo é efêmero.

Acredito que meu jeito de me comunicar com as pessoas que de alguma forma gostam do meu trabalho ou conteúdo, é sendo honesta sobre aquilo que eu sou, sobre o que eu penso. Não sou o tipo de pessoa que mostra cada passo da sua vida e nem tenho, por hora, essa vontade. Mas sei lá, postar uma selfie aleatória, compartilhar um meme ou postar um vlog de um dia legal, também são formas de expressão. Acho que tô num lugar de “gente comum”, em que o ordinário escancarado consegue ser interessante e até mesmo uma forma de vida.

O teatro desempenhou um papel importante na sua jornada de aceitação corporal. Quais lições você aprendeu nos palcos que levará para o resto da vida?

O teatro é tudo o que vai nos restar, e foi nele que eu descobri a artista que sou: intensa, camaleoa, visceral. Antes de todas as inseguranças, essas certezas eu carrego em todos os momentos da minha vida. Poder estar em processos teatrais é sempre poder experimentar coisas novas, possibilidades, tentativas, erros. No teatro a gente se desdobra e se faz artista e é impossível viver sem ele.

Amanda Linhares (Sérgio Santoian)
Amanda Linhares (Sérgio Santoian)

Já que você mencionou estar no início da sua trajetória nas telas e nos palcos, o que podemos esperar de seus futuros projetos, como o curta de terror e a peça solo?

Estou concretizando sonhos antigos que nunca foram embora. Nos novos projetos, novas facetas e possibilidades pro meu perfil, eu diria assim. Nesse curta, “Brutualista”, minha personagem foge muito do estereótipo de uma mulher gorda, cômica. E o mais legal: em uma nova face, sinto a assinatura se construindo e isso me deixa muito feliz. Na peça solo, “Cadê a outra?”, falo das coisas mais profundas do meu coração, conto minha história numa dramaturgia muito semelhante a minha imaginação sobre teatro quando era adolescente. Esses projetos são mais uma parte da caminhada, os quais marcam um momento muito rico pra mim: as possibilidades que nem eu conhecia.

Você falou sobre seu desejo de atuar em novelas e cinema, além do teatro. Quais são os maiores desafios que você espera enfrentar nessas novas áreas da atuação?

Lidar com a insegurança acredito que ainda seja um grande desafio pra mim. Então da mesma forma que foi no início da série, acredito que o maior desafio seja entender os novos espaços de trabalho e como as dinâmicas deles se estabelecem. Além disso, estar disposta e de mente aberta pra perceber e descobrir coisas novas sobre a atriz que eu sou e quero ser. Tô muito disposta.

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