Agnes Brichta brilha nos palcos em ‘O Tartufo’ e encanta como cantora em ‘Quem vem de Fora, Vatapá Vambora’

Luca Moreira
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Agnes Brichta (Pablo Henriques)

A talentosa atriz Agnes Brichta, integrante do elenco da aguardada peça “O Tartufo”, está pronta para brilhar no palco do Centro Cultural da Justiça Federal, a partir de 17 de novembro, com apresentações de sexta a domingo, às 19 horas, até 10 de dezembro.

A trama da peça desvela a história de Tartufo, um hipócrita e falso puritano, que se aproveita da fé cega de Orgonte para aplicar um golpe e enriquecer à sua custa. Com humor afiado, a peça traz à tona a discussão sobre o abuso de poder e os perigos da confiança cega.

Dirigida por Bruce Gomlevsky, a montagem traz o texto clássico de Molière, traduzido por Guilherme Figueiredo, com uma abordagem irreverente que mistura o rigor clássico do verso com elementos brasileiros contemporâneos, como o funk e o futebol, além de recursos audiovisuais.

Bruce Gomlevsky, diretor prestigiado e reconhecido por suas adaptações criativas, como a recente “A Revolução dos Bichos” de George Orwell, proporciona uma encenação inovadora, buscando uma conexão direta entre o público contemporâneo e os aspectos do cotidiano apresentados no palco. O elenco, formado pelo talentoso “Coletivo Descalços”, destaca-se pela harmonia e entrosamento, evidenciando o forte jogo cênico entre seus membros.

Agnes Brichta, com uma formação teatral sólida iniciada em 2002, é reconhecida não apenas pelo seu papel em novelas, como “Quanto Mais Vida Melhor”, mas também por sua atuação premiada no teatro, recebendo o título de melhor atriz no Sarau Celebração CAL 2017 e indicação como melhor atriz no FETAERJ 2022.

Além de seu envolvimento em “O Tartufo”, Agnes Brichta brilha também como música e cantora no espetáculo “Quem vem de Fora, Vatapá Vambora”, dirigido e escrito por André Arteche, protagonizado por Ari Guimas. A obra traz a cativante história das dificuldades e sonhos que levam nordestinos a migrarem para o Rio de Janeiro, acompanhada por músicas ao vivo, predominantemente da Bahia.

A versatilidade de Agnes Brichta, oriunda de Sergipe, se destaca não apenas na atuação de personagens, mas também na expressão artística através da música, consolidando sua presença marcante nos palcos brasileiros.

Você pode compartilhar mais sobre o seu papel em “O Tartufo” e como se preparou para interpretar esse personagem tão peculiar?

Meu papel em “O Tartufo” é Cleanto, um homem muito inteligente, com reflexões lindas acerca da humanidade e da fé mas a sua maior tragédia é estar de mãos atadas para os perigos de Tartufo, por ser apenas um agregado na casa de Orgonte. É muito interessante estar fazendo um personagem masculino, algo que o teatro nos permite mais tranquila e corriqueiramente do que o audiovisual. Um dos primeiros trabalhos do processo foi justamente desapegar da tentativa de fazer uma figura masculina e focar em construir um personagem independente do gênero. Sempre lembro de Hamlet, da Cia Armazem, com Patricia Selonk dando uma aula de construção de humanidade que ultrapassa gênero. Como O Tartufo é um clássico, outro desafio foi aproximar o texto pra que se tornasse claro e verdadeiro. Para isso, assisti muitos espetáculos em verso, li traduções diferentes da peça e estudei não só O Tartufo mas também outros textos rimados. O objetivo é compartilhar essa história, a rima é consequência.

A peça aborda temas como abuso de poder e confiança cega. Como você acredita que esses temas ressoam com você e o público contemporâneo?

Os hábitos de fingir ser o que não é e confiar demais nas aparências são muito conhecidos por todos nós que vivemos nos tempos de rede social, fake news e internet. Por isso é tão fácil compreender e se reconhecer na boa fé de Orgonte, o pai da família que é enganado ao longo da peça. Acho que o desejo de acreditar em algo ou alguém ressoa muito em todos nós nos dias atuais, tão marcados pela incertezas e por abusos de poder, por isso a dissimulação de Tartufo nos afeta de uma forma bem pessoal e tragicômica.

O diretor Bruce Gomlevsky é conhecido por suas adaptações criativas. Como foi para você trabalhar sob sua direção e integrar elementos brasileiros, como funk e futebol, em uma peça clássica como “O Tartufo”?

A proposta do Bruce Gomlevsky de misturar versos com cotidiano atual e brasileiro foi essencial pra trazer toda a peça pra mais perto de nós (atores e público). Acho maravilhoso quando clássicos são apresentados de forma acessível e nova, afinal se vamos revisitar algo, que seja diferente. Além disso, conseguir montar O Tartufo com elementos brasileiros e atuais, mostra que essa história ainda se repete hoje e aqui.

Você mencionou que a peça busca conectar o público com aspectos do cotidiano. Como isso é alcançado na encenação, e de que maneira você acha que o público moderno pode se identificar com a trama clássica de Molière?

Foi através da experimentação do elenco, muito criativo e bem humorado nas explorações, que descobrimos que a peça é mais atual do que pensávamos. Quem não conhece uma família em desacordo, um parente cabeça dura, um casal jovem que luta pelo consentimento dos familiares, um garoto mais impulsivo e esquentado ou mesmo esse perigo de acreditar em alguém que não merece confiança? O que Molière oferece é atemporal e o tornamos cotidiano e brasileiro por meio da construção dos personagens, do figurino, da trilha sonora, dos hábitos, dos elementos cênicos e até do sotaque.

Pode nos contar um pouco mais sobre o “Coletivo Descalços” e como a dinâmica do grupo influencia a sua experiência teatral?

O Coletivo Descalços é formado por atores que se conheceram no curso técnico de teatro da CAL e está estreiando profissionalmente com esse espetáculo. Estar em grupo levantando nossa própria peça é uma experiência intensa que nos faz entender na prática a coletividade do fazer teatral. É um desafio mas é libertador e necessário. Em O Tartufo a gente quer contar essa história com clareza, divertindo o público, e é muito legal ver como esse grupo de atores é criativo, se estimulando na troca e na experimentação.

Sua estreia em novelas foi em “Quanto Mais Vida Melhor”. Como foi a transição entre a televisão e o teatro para você, e o que aprendeu com essas diferentes formas de atuação?

Passei vinte anos estudando teatro mas não foi tão imediato relembrar as especificidades dessa linguagem depois de um ano de novela. Estava com saudade de olhar nos olhos do público para contar uma história e também já estou com saudade do audiovisual! A verdade é que é muito prazeroso poder fazer o que eu amo em todos os formatos possíveis, acredito que a contação de história com verdade é o norte da atuação independente de estarmos falando de TV, cinema ou teatro.

Além de atuar, você está envolvida em outros aspectos do mundo artístico, como a música no espetáculo “Quem vem de Fora, Vatapá Vambora”. Pode compartilhar sua experiência nesse papel musical e como isso complementa a sua atuação?

Estou dando meus primeiros passos em cantar ao vivo com o espetáculo “Quem vem de Fora, Vatapá Vambora”. Já cantava na internet e sabia desse meu desejo em me aprofundar nisso, bastou o convite do André Arteche e do Ari Guimas pra que já me animasse muito. O encantamento pela música já estava em mim e acho que vem pra ficar e pra somar à atuação.

No cenário atual, onde a arte enfrenta desafios significativos, como você vê o papel do teatro e das produções culturais na sociedade, e qual é a importância de manter viva a expressão artística?

Vejo muito valor no encontro presencial e único que só o teatro oferece. Saber que o que se passa em uma peça é fruto do dia, do encontro do espetáculo com a plateia e nunca mais vai se repetir da mesma forma é muito incomum nos dias de hoje, com o mundo online se expandindo tanto. Como artista, a expressão artistica é uma aventura eletrizante, como espectadora, é um respiro fundamental na velocidade e nos problemas do dia a dia.

Você tem alguma história ou momento marcante dos bastidores de “O Tartufo” que gostaria de compartilhar conosco?

No início do processo, consideramos fazer os personagens com os gêneros que os atores se identificam em suas vidas. Nesse momento, eu, com minha cabeça inquieta e querendo construir uma figura forte, propus que Cleanto-mulher estivesse grávida e foi muito legal lidar com essa opção, criar as explicações e pesquisar o corpo. Comentamos com saudade da Cleanto grávida até hoje nos ensaios!

O que o futuro reserva para Agnes Brichta em termos de projetos artísticos? Há algo que você esteja ansiosa para explorar em sua carreira?

Eu tenho muitos desejos para meu futuro profissional. Quero muito retornar para o audiovisual e também estou tendo muito gosto pelos espetáculos que estou fazendo como atriz e cantora. O espetáculo “Quem vem de Fora Vatapá Vambora” deve retornar e também estou me aventurando na dramaturgia.

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