Festival Zepelim reúne grandes nomes da música brasileira em Fortaleza (CE) e abre espaço para novos artistas. A terceira edição do evento ocorreu no último sábado, dia 24, no Marina Park. Dessa vez condensado em apenas um dia, o festival de música trouxe Seu Jorge, Planet Hemp, Os Garotin, Céu, BaianaSystem, Banda Uó, Júlia Mestre, Yago Oproprio, Marina Sena, Jovem Dionísio, Luiz Lins e Ivyson e Pabllo Vittar.
Durante todo o evento, as atrações alternaram entre os palcos Sol e Mar, posicionados um ao lado do outro e rodeados de estandes. Júlia Mestre, mais conhecida pelo seu trabalho com o grupo Bala Desejo, foi quem abriu o show, às 16h, no palco Mar. A apresentação foi seguida de Luiz Lins e Ivysson. Depois, foi a vez de Os Garotin levarem seu swing ao Zepelim.
Ainda mais encantadora ao vivo, Céu começou seu show com canções do seu último disco, Novela (2024). Além de “Gerando na Alta”, “Cremosa”, “High na Cachu” e outras faixas do álbum, o setlist da cantora e compositora trouxe músicas mais antigas e mais conhecidas do público, como “Malemolência”, “Vagarosa” e “Varanda suspensa”. As faixas são dos seus belos, coesos e preciosos três primeiros discos: Céu (2008), Vagarosa (2009) e Tropix (2016). Como a grande artista que é, no palco, Céu fica maior e hipnotiza.
Na sequência, o show de Yago Oproprio começou com uma apresentação audiovisual no telão, antes de entrar no palco. Ele se apresentou ao público com a mesma vestimenta do vídeo, uma camisa social e um crachá, como um trabalhador comum. Na segunda música do show, “La Noche”, o artista enfrentou contratempos aparentemente difíceis de resolver. Ele chegou a se retirar do palco duas vezes junto de Patrício Sid e da DJ Vivian Marques.
Os problemas técnicos do show interromperam o show de Yago Oproprio, atrasaram o evento e acabaram provocando uma alteração no lineup. Quando os problemas foram enfim resolvidos, o artista ressurgiu do backstage e segurou o show esbanjando simpatia e talento em sua primeira vez na cidade. Com uma voz doce e um gingado de quadris não muito comum de se ver na cena do rap brasileiro, ele cantou diversas canções do seu primeiro e único álbum até então, OPROPRIO (2024). “Papoulas”, “Fora do Tom” e “Catedrais” foram algumas delas.
Para a surpresa do público, quem procedeu a apresentação de Yago Oproprio foi Seu Jorge. O renomado artista entregou uma apresentação bonita e comedida. Quem esperava um show com o espírito dos álbuns “Músicas para churrasco” pode ter se decepcionado, mas a apresentação foi um atestado de que Seu Jorge consegue a proeza de ser popular e sofisticado ao mesmo tempo — e o faz com maestria.
Acompanhado de seus músicos talentosos e sincronizados e dono de uma voz tão linda quanto inconfundível, Seu Jorge não deixou de lado hits como “Mina do Condomínio” e “Amiga da Minha Mulher”. Ele também cantou a famosa “Quem Não Quer Sou Eu” com seu grave arrebatador e até “Na Rua, Na Chuva, Na Fazenda (Casinha de Sapê)”, de Kid Abelha, entrou no setlist.
A responsabilidade de seguir o Seu Jorge acabou ficando para a banda Jovem Dionísio, que emplacou dois hits que circularam nas redes sociais como trilha sonora das chamadas trends, como “ACORDA PEDRINHO”. Depois, foi a vez da Banda Uó fazer seu comeback em grande estilo. Com músicas divertidas, os três integrantes vestiam rosa, azul e verde limão e fizeram um espetáculo visualmente atraente, despertando os leques na plateia do festival.
Uma das atrações mais queridas do público e gabaritada em Festival Zepelim, Marina Sena subiu ao palco depois da Banda Uó e marcou sua terceira vez no evento. A cantora trouxe músicas de seus dois álbuns, De Primeira (2021) e Vício Inerente (2023). Além do corpo de balé, ela tinha o coro do público acompanhando a grande maioria das músicas. Se é verdade que hoje não se consome mais álbuns completos, parece que o público de Marina desafia a regra.
Voltando às raízes, a artista também fez um breve momento de voz e violão, cantando a autoral “Mande Um Sinal” e “Vapor Barato”, conhecida pela interpretação de Gal Costa. A artista manteve a energia deixada pela Banda Uó e fez um show alto astral, sem poupar sensualidade e gogó. Entre as músicas, ela cantou “Dano Sarrada”, “Ombrim”, “Partiu Capoeira”, “Tudo Pra Amar Você” e “Tamborim”, despedindo-se com “Por Supuesto”, canção que a lançou de vez de Minas Gerais para o Brasil inteiro.
Mas quando o assunto é energia, não existe nada como BaianaSystem. No Palco Sol, Russo Passapusso, vocalista da banda, chegou mascarado, usando a bandeira do Brasil como saia. Em vez de “ordem e progresso”, “meu axé é resistência”. Como ninguém, eles misturam festa e revolução. O show já começou com Saci Pererê no palco e roda aberta na plateia. Com o grave estremecendo o solo e Russo conduzindo o público com sua voz potente, não tinha quem ficasse parado.
Como spoiler do que viria a seguir, BNegão, um dos vocalistas da banda Planet Hemp, participou do show do BaianaSystem para cantar “Salve”, gravada em O Futuro Não Demora (2019). “Saci”, “Sulamericano”, “Bola de Cristal” e “Lucro” foram outros destaques do show da banda baiana. Além de BNegão, BaianaSystem e Planet Hemp têm em comum o produtor musical Daniel Ganjaman. Mostrando cuidado com o público, os dois grupos fizeram questão de exaltar personalidades cearenses, locais da cidade de Fortaleza e a cultura do estado. Mantendo a linha de sonoridade, foi a vez dos cariocas agitarem o Palco Mar.
Com uma produção audiovisual que começou pedindo silêncio e atenção ao público, o show começou apresentando recortes da trajetória do Planet Hemp por meio de trechos de entrevistas antigas e uma mini linha do tempo. O vídeo abordou a relação com Skunk, um dos fundadores da banda, a prisão e a censura e os discos emblemáticos lançados diante de todos esses acontecimentos. Já nos primeiros momentos, o recado estava dado: tem que respeitar.
Os maconheiros mais famosos do Brasil abriram o penúltimo show do evento com “Distopia”, presente em Jardineiros (2022) e Jardineiros: A Colheita (2023), discos mais recentes da banda de três décadas. Além de “Distopia”, a única faixa do álbum que entrou no setlist foi a música de trabalho “Jardineiro”, que em seu refrão de reggae fácil de gravar na mente convida o público a cantar: “jardineiro não é traficante”.
O restante do setlist ficou por conta de músicas dos álbuns Os Cães Ladram Mas a Caravana Não Para (1997), A Invasão do Homem Sagaz (2000) e, principalmente, do disco de estreia da banda, Usuário (1995). Clássicos como “Legalize Já”, “Fazendo a Cabeça”, “Dig Dig Dig”, “Deisdazseis” e “Mantenha o Respeito” inspiraram rodas punks e interações musicais com o público, que a cada “dig dig dig”, prontamente respondia “Planet Hempa!”.
Mesmo com as alterações, o último show manteve-se sendo o da atração mais esperada do Festival Zepelim 2024: Pabllo Vittar. “Amor de Que” foi uma das primeiras canções do show cheio de hits, sejam aqueles da própria artista ou as versões de músicas de forró que cabem em sua boca como uma luva. Ela cantou “Alibi”, hit mais recente com sua participação, e músicas dos álbuns Vai Passar Mal (2017), Batidão Tropical (2021) e o mais recente Batidão Tropical Vol. 2 (2024).
Vestida de mini saia e calçando botas brancas de cano alto como uma verdadeira dançarina pop de forró, a setlist de Pabllo Vittar foi preenchida por canções como “São Amores”, “Disk Me”, “K.O.”, “”Corpo Sensual”, “Triste com T”, “Me Usa” e “Não Desligue o Telefone”. A artista encerrou o festival quando o sol já estava prestes a nascer em Fortaleza e foi a única artista a transpor a distância entre o palco e o público durante o show. Na terra do forró, a drag queen não poderia ser mais popular.
O Festival Zepelim 2024 terminou com um saldo positivo, apesar dos problemas técnicos que geraram insatisfação no público. Além da curadoria bem feita, o festival de música é estratégico em suas escolhas. O evento deu oportunidade a novos artistas da música brasileira e trouxe à Fortaleza aqueles já consagrados no país inteiro, abrangendo gêneros e estilos diversos em um ambiente esteticamente agradável, com redes, tomadas e áreas de descanso, tornando-o aconchegante mesmo com aproximadamente 15 mil pessoas dividindo o mesmo espaço.